Como fotografar a crise (ou Um documento para os historiadores do futuro)

Um protesto é uma imagem. Boa parte do que ocorre em seu percurso visa a atenção de um espectador que encontra-se fora da manifestação. Reproduz-se assim uma sucessão de imagens (que pouco ou nada mudaram ao longo do tempo): os punhos em riste; as palavras de ordem em cartazes; corpos aglomerados sob faixas que muitas vezes só podem ser lidas de um ponto de vista superior, um olhar que de alguma forma paira sobre os manifestantes. Até os recorrentes conflitos com os agentes do estado…Continue a ler “Como fotografar a crise (ou Um documento para os historiadores do futuro)”

Duas perguntas para Lázaro Roberto

Lázaro Roberto, também conhecido como Lente Negra, é um fotógrafo de rua e arte educador baiano, militante do movimento negro. Sua inserção no universo da fotografia aconteceu em meados dos anos 1970 quando começou a registrar pessoas na periferia da cidade de Salvador, em situações que representavam as raízes e a cultura afrodescendente em sua atuação cotidiana. Na década de 1990, ao lado de Raimundo Monteiro e Aldemar Marquês, com o objetivo de fortalecer os fotógrafos e as fotografias de negros, fundou o Zumvi Arquivo…Continue a ler “Duas perguntas para Lázaro Roberto”

O olhar como lugar

Lívia Pasqual (Caxias do Sul, 1984) é diretora de fotografia e artista visual, com graduação em Realização Audiovisual pela Unisinos e pós-graduação em Fotografia pela EFTI (Madrid, Espanha). Uma das convidadas do 12º Festfoto, Lívia tem uma produção que transita entre a fotografia, o cinema e o espaço tridimensional. Em uma noite fresca de outono, sentamos para uma breve conversa. Marco. Tu estudou arquitetura, mas acabou se formando em cinema, depois fez uma especialização em fotografia. De que forma essas três coisas se encontram no…Continue a ler “O olhar como lugar”

Singularidade plural

Humanae é o projeto da carioca Angélica Dass que consiste em um inventário cromático dos tons da pele humana. Formada em belas-artes pela UFRJ, Dass reside há pelo menos 12 anos em Madrid. Lá, casou-se com um físico espanhol que ela diz ser daqueles que, quando pega o primeiro raio de sol, fica da “cor do camarão”. A ideia do projeto veio quando ela, de pele negra – ou como ela mesmo define, “da cor de uma dessas barras de chocolate com pouca porcentagem de…Continue a ler “Singularidade plural”

Fabulação mítica íntima

As imagens criadas por Karen Miranda Rivadeneira povoam a paisagem deslumbrante dos Andes com a sua própria ancestralidade. O trânsito entre os Estados Unidos e o Equador e a capacidade de se servir do que apreende desses dois mundos são elementos chave naquilo que dá sentido ao trabalho da artista. Rivadeneira é filha de equatorianos mas nasceu nos Estados Unidos. De lá, aos três anos, mudou-se com os pais de volta ao Equador, onde passou boa parte da infância. Sua formação, contudo, foi na School…Continue a ler “Fabulação mítica íntima”

Arqueologia do apagamento

No ano de 1911, o fotógrafo equatoriano José Domingo Laso (1870-1927) lançou o livro Quito a la vista. Em uma série de fotografias de grande qualidade técnica, Laso apresentava imagens de uma Quito moderna, com seus edifícios, carruagens, catedrais, praças e monumentos – as ruas por vezes tomadas por homens e mulheres vestidos em trajes ao melhor estilo europeu. Quito a la vista é um livro que segue certa lógica comum entre as colônias europeias então recém emancipadas. Assim como as fotografias produzidas no final…Continue a ler “Arqueologia do apagamento”

A diáspora em cinco fotolivros

Tema abrangente e extremamente atual, a diáspora é problematizada de forma recorrente no âmbito da fotografia contemporânea. Como forma de adiantar as discussões do 12o FestFoto, montamos uma pequena lista de cinco livros de fotografia que abordam de forma diversa o tema desta edição. Para ajudar nesta seleção, convidamos o fotógrafo e designer Fabio Messias, cuja pesquisa sobre fotolivros é referência no país. MARCADOS – Claudia Andujar (Cosac Naify, 2009) Da monumental obra de Claudia Andujar, talvez este livro, lançado pela Cosac Naify em 2009,…Continue a ler “A diáspora em cinco fotolivros”

Um nome sem sobrenome

Entrelaçadas uma a outra como se fossem uma coisa só, Mariane, sua mãe e sua irmã encaram a câmera e a espectadora. A foto faz parte da série Maria, só Maria (2017-) na qual a fotógrafa de Embu-Guaçu, município localizado na região metropolitana de São Paulo, registra a casa de sua família em seu cotidiano. Maria, só Maria evoca um nome sem sobrenome, um nome sem alma ou com uma alma exclusivamente coletiva, em busca de ressignificação. Maria, que no Brasil já foi muito utilizado…Continue a ler “Um nome sem sobrenome”

Aperte um botão e eles fazem o resto

Eduardo Montelli (1989) é um dos convidados do 12 FestFoto. Artista visual, natural de Porto Alegre, é doutorando em Linguagens Visuais pela UFRJ e mestre em Poéticas Visuais pela UFRGS. Tive com ele uma conversa super agradável na qual falamos da sua relação com a fotografia digital, especialmente a que acontece em um ambiente doméstico, além de sobre a construção do indivíduo na contemporaneidade em sua relação com a memória e o seu entorno, temáticas fundamentais para sua prática artística. O resultado pode ser conferido…Continue a ler “Aperte um botão e eles fazem o resto”

A imagem da Terra (vista por um olho extraterrestre)

Em 7 de dezembro de 1972, astronautas à bordo da missão espacial Apolo 17 realizaram a primeira fotografia da Terra vista por inteiro. Com o Sol as suas costas, a equipe da NASA teve as condições ideais para registrar a face iluminada do planeta – sua circunferência perfeitamente desenhada flutuando solitária na noite do Cosmos. Mesmo com as espessas nuvens do ciclone Tamil Nadu encobrindo boa parte do globo, a fotografia capturada pela câmera Hasselblad dos astronautas revela a Terra não apenas de um ponto…Continue a ler “A imagem da Terra (vista por um olho extraterrestre)”