Lívia Pasqual (Caxias do Sul, 1984) é diretora de fotografia e artista visual, com graduação em Realização Audiovisual pela Unisinos e pós-graduação em Fotografia pela EFTI (Madrid, Espanha). Uma das convidadas do 12º Festfoto, Lívia tem uma produção que transita entre a fotografia, o cinema e o espaço tridimensional. Em uma noite fresca de outono, sentamos para uma breve conversa.
Marco. Tu estudou arquitetura, mas acabou se formando em cinema, depois fez uma especialização em fotografia. De que forma essas três coisas se encontram no teu trabalho?
Lívia. Acho que a arquitetura me ensinou a fotografar. A faculdade de cinema me sensibilizou para o uso da luz, mas a composição veio toda da arquitetura. Pelo menos o meu jeito de pensar composição, de pensar volumes, de pensar formas… de subtrair e de adicionar. Tudo que aprendi na arquitetura (o jeito de olhar o mundo, de compor, de pensar na harmonia das coisas) acho que eu uso pra fotografar.
Entre a arquitetura e a fotografia/cinema acontece um processo inverso. Porque a arquitetura sai do bidimensional para a tridimensionalidade, enquanto a fotografia e o cinema fazem o contrário, que é olhar para o espaço e tentar compor de maneira bidimensional. Apesar de serem inversos, eu acho que esses processos são na verdade muito próximos.
Marco. Assim como tua formação, tua atuação também é múltipla. Tu tem um trabalho como diretora de fotografia para cinema e televisão, assim como o teu trabalho artístico em video e fotografia, além de já ter produzido coisas mais instalativas e tridimensionais. Como se dá essa transição de um meio para o outro? Talvez minha pergunta na verdade seja: é a questão que te leva a determinada solução do trabalho ou é tu que está experimentando o meio e acaba descobrindo algo ali?
Lívia. Pra mim, meu olhar de fotógrafa é igual em todos os meios. Eu sinto que cada projeto demanda uma certa solução e como fotógrafa vou achar essa solução.
Em relação à imagem em movimento e still, pra mim não tem a menor diferença. Eu sei que em cada uma as soluções vão ser diferentes. Eu sei que são coisas diferentes, mas olhando para elas a partir da fotografia, eu acabo usando o mesmo repertório para as duas. São diferentes os recursos disponíveis, mas o meu olhar para as duas coisas vem do mesmo lugar. Acho que eu não saberia diferenciar.
Marco. E esse mesmo lugar, qual que é? Seria a fotografia em si?
Lívia. Eu acho que é um “olhar fotográfico”, poderíamos chamar assim. Esse lugar é o olhar fotográfico. E ele pode tanto se resolver como fotografia still, como video, etc.
Marco. Legal tu estar falando nisso, porque, dos teus trabalhos, aquele que mais me toca é o que tu produziu na Amazônia, com os rebatedores… [a obra Ótica Básica, realizada dentro da residência artística LABVERDE].
Lívia. Que não é fotografia!
Marco. Mas que é muito fotografia… [risos] Ele não é fotografia, na verdade é uma instalação (ou seria um site specific?).
Lívia. Eu chamaria, sei lá, instalação… mas ele é um olhar fotográfico, né?
Marco. Total. E pra mim, como fotógrafo, aquele trabalho foi interessante para pensar a coisa mais básica, que é a luz. Então, não sei… isso não é exatamente uma pergunta, só uma constatação a partir do que tu tava falando[risos].
Lívia. Mas acho que complementa bem porque ainda assim, qual é o limite da fotografia? Não sei se esse é um trabalho fotográfico, talvez seja… Porque nele eu trabalho com o olho, luz e tempo. Não tem o aparato, eu estou fora disso, eu saio do aparato pra pensar a fotografia de outra maneira.
Mas eu ainda acho que todos meus trabalho vem do mesmo lugar. É um olhar fotográfico. Mesmo quando eu faço uma escultura, eu acho que eu sou fotógrafa. A minha base fundamental é a fotografia. Acho que dessa forma eu fico mais livre pra me sentir autora quando eu tô trabalhando como, por exemplo, diretora de fotografia de um filme. Quando tem espaço para criar, eu não tenho nenhum problema de me sentir autora, mesmo quando o filme é de outra pessoa.